Deito outra vez o peito apertado
Você não vem.
Não sei onde está e temo pelos dias que não te vejo,
Quando finjo dormir pra esquecer tua ausência.
Também não vem o sono,
Que me falta enquanto passeias em minha mente.
Te sinto ao longe a respiração, o cheiro doce dos cabelos
E a febre dos beijos que me acordam feliz, em teus braços.
Então, já sou outro, Camila: sou amor, flor. Inteiramente seu.
Entregue às danças que juntos traçamos sobre esta terra de nossos amores.
Mas hoje você não vem, e o vento me acorda surrurando seu nome
Como tantas vezes faz quando estou só neste quarto fechado.
Não levanto. Nada me espera lá fora.
O calor da rua não recende à tua pele. Te busco
Nas frases vãs que repito, nos desejos escondidos
Os medos, e os segredos banidos. Todos voltam pra me assombrar.
Tua falta me arde, como silêncio, faca.
Reviro aqui dentro, e desabo: chovo até não caber mais
E deixo passar, deixo correr, líquida
Que me escorre pelos dedos, essa angústia incontrolável.
Quase um segundo depois, nada muda.
Entre os muitos que passam contados, iguais
E as voltas dos ponteiros, que me trazem de volta ao trem.
A locomotiva que me leva a teu encontro. Não descanso, ao contrário.
Enquanto cresces dentro de mim, desperto, e te espero.
Ainda que me encontres cansado, desejoso do teu peito para deitar.
G. Tritany
Que somos
Mergulho colado em teu corpo
suado, desvendando os caminhos tortuosos
que nossas pernas bambas cruzam
antes de se encontrarem neste abraço.
Vôo contigo, desta vez. Sem rodeios.
M’entrego e me descasco, como fruta
aos teus saboreios.
Sou o eco. O uivo dos ventos que sopram
os cantos desse amor, o barulho das ondas
que vibram em mim os ardores de nossos corpos.
O destino apaixonado dos pássaros cantarolantes, e das estrelas flamejantes.
Sou eu o gozo flúido, que me mata, aos pedaços. O avesso do ontem, o agora, o instante.
E tu és o sol, que me desperta. O calor que busco na madrugada, mesmo quando só, perdido neste quarto. É tua a flor, que me floresce o peito.
Que brota do seco, e se desprende em perfume contra o banho que m’enxágua.
Me lava, e arrasta para si.
Como a maré que nos enlaça, que nos traz para este abraço,
tu me invades. Inundando meus pensamentos com teus beijos calmos.
E já não sou tão somente eu.
Sou teu e te sou em parte, como tu também és: a canção deste amor amar-te.
G. Tritany
De volta ao Amor
Volto à Praia do Amor
Para trazer os versos que escrevi
Apaixonado, em suas redes,
Ouvindo o canto do vento entre as falésias
O vento que despenteia os coqueirais
E me leva para perto do amor
Que agora toma meu coração por inteiro.
Volto despido das dúvidas,
Carregando as flores róseas a brotar
Do meu peito aberto, dos pêlos eriçados
Arrepiados de amores, e saudosos
Das tardes que se espraiam sob o sol.
Sou todo coração, a nadar entre essas pedras
Bailando, como bailam as flores da primavera
Sou todo desejo a correr por essas areias
Leve, como me levam os ventos das marés
Volto ao sol de primavera
Que ilumina as águas do Amor,
A lapidar as pedras
Como o beijo lento que roubei de ti
A me lambuzar o corpo que arde.
Volto cá, neste fervor apaixonado
Nesta praia de amores levados
À sombra dos coqueiros que se despenteiam
Ao passar de nossos desejos apartados
Volto, porque desejo levar daqui
O amor que te entrego atado ao peito
Para te inundar deste mar de desejos
Que iluminam meu caminho de volta ao teu leito
G. Tritany
Escorre a madrugada
Tua lágrima escorre do rosto
E me molha a boca
Neste colchão suado de nossos amores
Tua boca canta livre, desta vez
As palavras que tanto espero ouvir
E agora o silêncio quebra, se desfaz
Nas emoções, desata os nós
E voa, como voamos neste abraço.
Mergulho em teus cabelos e te adoro
Por um segundo a mais, com meus dedos
entrelacados nos fios
Que depois me consolam tua falta.
Suspiro.
Que sorte é esta, que nos traz à pele
O calor tesudo destes encontros, e banha
De lua cheia os desejos que trilhamos?
É a mesma que nos embala, madrugada adentro,
Nos cheiros que trocamos entre frases desbocadas.
Te preencho do prazer que me invade
E sentencio tuas voltas à minha cama.
Giramos, giramos
Como girassóis, neste leito, tesos
Enfeitiçados como os cabelos
Teus que me ficam, e os meus, grudados
Em tua pele lambuzada.
Carinhosa madrugada de amores,
Manhãs, tardes, cores e suores.
O tempo voa lá fora, e os astros dançam
Vão e vêm nesse céu multicor
Enquanto aqui dentro o tempo escorre
Sobre as nossas peles marcadas
E mancha de mel os lençóis
Cravados dos cheiros de nossos corpos.
G. Tritany
MERGULHO
Inundado em emoção
Corro e me gasto nesta cama vazia
Busco teu olhar aqui,
Teus peitos
mergulhados nos meus pêlos
E a boca, que me lambe os sentidos
Mas hoje, você não vem.
Só, conto teus fios
Mergulho no cheiro que fica
no travesseiro, e deliro
Traduzo a falta do teu corpo
Em uma canção, que não para de tocar
nos meus ouvidos
Nossos gritos,
Os desejos partidos, nesse despertar
De madrugada, aos suspiros
Desfigurado, sem sentido, sonho despido
Com teus gemidos,
Tuas coxas marcadas e os beijos lambidos.
Insone, aflito, peço
que venhas dançar comigo
A música que me encanta, que te enlaça
Entoando baixinho
Este canto silencioso em nossos ouvidos
G. Tritany
Em cada pétala
O sol desce, se recolhe
E tuas coxas abraçam minhas orelhas.
Danças lentamente
Enquanto agrado a flor que me desfolhas
Em cada pétala lambuzada, de saliva e gozo.
O ar não faz falta, e no calor do quarto
Vamos desenhando a noite em corpos cálidos
O beijo interminável a misturar nossos retalhos.
G. Tritany
Este desvario
Trago de volta
o antigo caderno
onde deixei de ti
os versos de nosso encontro fugaz
antes desta paixão que agora abraça
Nas páginas, o mar das palavras,
o sangue à boca,
de morder e beijar
e os olhares vitrais, Camila
ai, os olhares!
estes teus olhos a atormentar
meu sossego só.
Se te vais, não vais toda
pois te ficam os cabelos
o cheiro, o corte ao pescoço
o desejo, desvario, pequena morte
e o abraço de sorte
que nos protege e acolhe
Misturados, como as palavras nestas cartas
que nos devoram
ainda estamos ao leito quente.
Este cheiro doce
dos seios que lambuzo de membro teso
rente aos teus pêlos duros
Puxo, repuxo tuas coxas
à madrgada que vara
e você me devora
engole minhas súplicas e adora
esse desesperado amor que invade,
que te esgota.
E agora, que te quero
muito mais te quero
como a luz da manhã a nos acordar marcados
ainda que separados, resta
na boca o gosto amanteigado
e o cheiro ácido do querer
que alimentam o desejo
do teu retorno ao meu peito.
G. Tritany
Sob os pés das paineiras
Caem as folhas sob os pés das paineiras
E a sede, o desejo com que te busco, riso
De abertos olhares, conciso
calmo e decidido
entrelaçar de braços e línguas
Sob as paineiras, flor
como a lua a contar nossos passos
ilumina cheia, esplendor
o caminho de cores e luzes
que nos presenteia a tarde
Ela cai, junto às nossas cortinas
desaba, como os portões
escancarados de olhares risonhos
e os pés, que frios caminham
sincronizados, atônitos
entre abraços, beijos, flertes
Sobe, linda lua, espelho
dos dedos encravados em seus cabelos
um despentear, sob a copa das paineiras
e vem presentear esta noite
este peito agarrado ao meu
onde despejo calor e zelo
o contínuo entrelaçar
de nossos desejos
E traz a volta, em lua nova
Novo caminho de flores a desabrochar
em mim e em ti
e por onde decidirmos trilhar
G. Tritany
Aos olhares vitrais
Do teu cheiro, ficam os suspiros
um balanço lento
que acompanha este lambuzar
Em teus braços, entregue
aos olhares vitrais
sou presa deste desejo
renovado e tóxico
Línguas, coxas, corpos
o mergulho suado, teso
entre os vapores
de nossos ais
Lambuzamos!
Untados em nossas salivas, apertados
entre beijos e mordidas.
Apartados, já, pelas despedidas
com que tramamos estas guias.
Já não servem as velhas
fitas, as agonias
Vai-te agora. E deixa
a novidade de um sorriso leve
te trazer de volta
como a lua
que se esconde sorridente
e retorna cheia, ardente
como a paixão que nos invade
G. Tritany
Na espraiada tarde
O canto ácido não fere
Sob os olhos, Camila
Tuas cortinas iluminam
Me fazem ver estes meus olhos
Que te acolhem
És espelho, sorte
Que me abraça à pequena morte
E me suga o ventre
Na espraiada tarde
Nenhum som interfere
O cheiro não engana
O suor sobre a pele
Encravada, insana
De pêlos e dentes
A lambuzar a carne
Dura carne entesada
Molha, com ciúme de ti
A barriga armada
Sóbrios pecados
Teus beijos atirados
E a luz que nos devora
Chora baixinho agora
O canto silencioso em nossos corpos
G. Tritany